A Grande Ambição
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Os filmes em cartaz esta semana, de ‘A Grande Ambição’ a ‘Maria Montessori’

As estreias de cinema, os filmes em exibição e os novos filmes para ver em streaming, incluindo ‘Missão: Impossível’, ‘Lilo e Stitch’ ou ‘Juventude’.

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Tanto cinema, tão pouco tempo. Há filmes em cartaz para todos os gostos e de todos os feitios. Das estreias em cinema aos títulos que, semana após semana, continuam a fazer carreira nas salas. O que encontra abaixo é uma selecção dos filmes que pode ver no escurinho do cinema, que isto não dá para tudo. Há que fazer escolhas e assumi-las (coisa que fazemos, com mais profundidade nas críticas que pode ler mais abaixo nesta lista). Nas semanas em que há estreias importantes de longas-metragens no streaming, também é aqui que as encontra. Bons filmes.

Recomendado: As estreias de cinema a não perder nos próximos meses

Filmes em estreia esta semana

Um Silêncio

Em 2008, o advogado belga Victor Hissel, que se tornou conhecido por, dez anos antes, ter representado as famílias de duas das vítimas do pedófilo e assassino Marc Dutroux, foi preso por posse de pornografia infantil, o que destruiu a boa imagem que a opinião pública tinha dele. Em 2009, o seu filho Romain, de 20 anos, tentou matá-lo à facada. Joachim Lafosse inspirou-se neste caso para rodar Um Silêncio, passado no seio da família de um famoso advogado. Daniel Auteuil e Emmanuelle Devos são os principais intérpretes.

A Grande Ambição

Uma biografia de Enrico Berlinguer (Elio Germano), o carismático secretário-geral do Partido Comunista Italiano (PCI). Berlinguer foi o teorizador do Eurocomunismo, uma alternativa dita moderada e democrática do comunismo soviético, e que nos anos 70 e 80, quando o PCI era, ao contrário de hoje, uma poderosa força política na Itália, e em plena Guerra Fria, negociou com a Democracia Cristã para o levar ao poder. Andrea Segre assina a realização.

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Maria Montessori

Este filme de Léa Todorov baseia-se na vida e na obra da educadora, médica e pedagoga italiana Maria Montessori, e ficciona o encontro, em Roma, entre uma famosa cortesã francesa que tem uma filha deficiente, e aquela, que está a desenvolver um método de aprendizagem revolucionário para crianças então chamadas “deficientes”. Com Jasmine Trinca e Leila Bekhti.

De Hilde, com Amor

Berlim, 1942. Foi o mais belo Verão para Hilde – loucamente apaixonada por Hans e grávida. Mas no meio do amor há um grande perigo. Hans envolve-se na resistência anti-nazi. Hilde segue-lhe o exemplo mas é presa pela Gestapo e dá à luz na prisão. Filme de Andreas Dresen.

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O Match Perfeito

Comédia romântica de Celine Song, sobre uma jovem e ambiciosa casamenteira de Nova Iorque que se vê dividida entre o homem (aparentemente) perfeito e o seu antigo e imperfeito namorado. Interpretações de Dakota Johnson, Chris Evans e Pedro Pascal.

Como Treinares o Teu Dragão

Adaptação do filme animado homónimo de 2010, agora com actores e efeitos digitais, sobre a amizade entre um jovem e inventivo viking, e um dragão, na altura em que uma ameaça ancestral paira sobre a ilha onde vivem homens e dragões. 

Filmes em cartaz esta semana

  • Filmes
  • Comédia
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Pouco antes da actual moda dos “Starter Packs” na Internet, houve outra, que embora breve, foi bastante significativa para os cinéfilos: a dos falsos trailers de filmes de sucesso mundial, tal como teriam sido realizados por Wes Anderson, gerados por Inteligência Artificial (IA) e feitos por fãs do realizador de Um Peixe Fora de Água, Moonrise Kingdom e O Grande Hotel Budapeste. Entre os melhores destes trailers brincalhões, todos eles pastiches impecáveis do inconfundível estilo visual de Anderson e que podem ser encontrados no YouTube, estão os de franchises como Guerra das Estrelas, The Matrix, O Senhor dos Anéis e Harry Potter.

Já antes o célebre programa Saturday Night Live tinha feito um sketch com a forma de um trailer de um falso filme de terror de Anderson, intitulado The Midnight Coterie of Sinister Intruders, onde Edward Norton finge ser Owen Wilson, um dos actores favoritos e regulares do realizador. Estas novas brincadeiras digitais em redor da peculiar estética de Wes Anderson levaram ao aparecimento de alguns artigos sisudos sobre os perigos da IA na sua aplicação ao cinema. Mas não se pode negar aos autores dos ditos trailers conhecimento dos tiques cinematográficos do cineasta, muito menos sentido de humor. E Anderson não reagiu mal aos ditos, sentindo-se até lisonjeado.

Eles são, aliás, uma manifestação da enorme popularidade do realizador e do culto que o rodeia. Os seus idiossincráticos filmes podem irritar muita gente e ser aclamados por outra tanta, mas nunca deixam os cinéfilos impassíveis ou desinteressados. O Esquema Fenício teve estreia mundial no Festival de Cannes, onde competiu pela Palma de Ouro, e foi feito após uma publicidade cómica assinada por Anderson para comemorar os 100 anos de um modelo das canetas Montblanc, que também interpretou, juntamente com Jason Schwartzman e Rupert Friend.   

Passado nos anos 50 e descrito pelo próprio Wes Anderson como “uma mistura de filme sobre a relação entre um pai e uma filha, e uma história negra de espionagem global”, O Esquema Fenício foi escrito pelo realizador e por Roman Coppola, marcando a sexta colaboração entre ambos em termos de escrita de argumentos. Anderson disse também que a principal inspiração para o filme foi o nascimento da sua filha Freya. E que a sua mulher havia previsto que o feliz acontecimento, e o facto de ser pai pela primeira vez, de certeza o conduziria a fazer uma fita envolvendo um pai dedicado e a sua desvelada filha – ambos consideravelmente excêntricos, como não podia deixar de ser.  

Em O Esquema Fenício, Benicio Del Toro interpreta Zsa-zsa Korda, um magnata das indústrias de armamento e de aviação apaixonado por arte clássica, e cuja vida é marcada por acontecimentos peculiares e características insólitas. Entre eles estão o ter sobrevivido a seis acidentes de aviação e ter dez filhos (com os quais não vive). A sua filha favorita, Liesl (Mia Threapleton) é uma freira noviça que se interessou e envolveu nos negócios da família, e que acompanha o pai para toda a parte, depois de ambos terem retomado contacto, muitos anos após a morte da mãe e de ela ter ido para o convento, e com a qual aquele se quer reconciliar. Com eles segue também o novo secretário/tutor artístico de Zsa-zsa, Bjorn (Michael Cera), um norueguês apaixonado por entomologia.

Zsa-zsa é execrado e vigiado de perto pelas grandes potências mundiais, e está empenhado em concretizar o “Esquema Fenício” do título, que ele concebeu para salvar as suas finanças, e para o qual precisa de deter a maioria do capital, partilhado por sócios mais ou menos suspeitos e por familiares que ou não o têm em grande conta, ou que o odeiam tanto que o querem matar. Mas o intrincado e bizarríssimo enredo de O Esquema Fenício é, mais uma vez, um cabide que Anderson utiliza para pendurar o seu formalismo a régua e esquadro, o gosto pelas encenações visuais inatacavelmente arrumadinhas, a simetria rigorosa, os dioramas em tamanho grande e “vivos”, e dominados pelas cores pastel, e a pormenorização microscópica. 

Só que desta feita, o filme é melhor que os dois anteriores (excluindo o quarteto de contos de Roald Dahl que Wes Anderson adaptou para a Netflix, A Incrível História de Henry Sugar), o atravancadíssimo Crónicas de França do Liberty, Kansas Evening Sun (2021) e sobretudo o árido e amaneirado Asteroid City (2023), porque mais narrativo, menos distante e mais “vivo” emocionalmente. Isto devido, por um lado, à relação entre pai e filha e à sua evolução, e pelo outro à personagem de Zsa-zsa, decalcado de magnatas como Giovanni Agnelli, Aristóteles Onassis ou Calouste Gulbenkian, e que Benicio Del Toro preenche com consistência, humor e riqueza interior, tornando-a em algo mais do que uma das marionetas unidimensionais e extravagantes típicas do realizador.    

No elenco de O Esquema Fenício, longo e muito variado, como também é habitual nos filmes de Anderson, encontramos nomes que já têm senha de presença neles, caso de Bill Murray (que faz de Deus bíblico), F. Murray Abraham, Rupert Friend, Willem Dafoe, Benedict Cumberbatch ou Scarlett Johansson. E que são acompanhados por estreantes no universo andersoniano como Tom Hanks, Charlotte Gainsbourg, Hope Davis, Jeffrey Wright ou Mathieu Amalric, uns com mais que fazer que outros, mas cujas personagens são todas obedientes à batuta do seu estrambótico demiurgo. Se não agradar totalmente aos que andam desiludidos com Wes Anderson desde Grand Budapest Hotel (e com a excepção da citada fita da Netflix), O Esquema Fenício poderá ser o primeiro para passo para uma reconciliação futura.

Do Mundo de John Wick: Ballerina

Continuam a aparecer os títulos passados no universo da série de filmes John Wick, com Keanu Reeves. Do Mundo de John Wick: Ballerina , de Len Wiseman, decorre entre os acontecimentos de John Wick 3: Implacável e John Wick: Capítulo 4. Eve Macarro (Ana de Armas) é uma jovem assassina treinada nas tradições da Ruska Roma, que busca vingança contra as pessoas que mataram a sua família. Também com Keanu Reeves, Ian McShane, Anjelica Huston, Gabriel Byrne e Catalina Sandino Moreno.

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A Prisioneira de Bordéus

Isabelle Huppert e Hafsia Herzi interpretam A Prisioneira de Bordéus, de Patricia Mazuy. Alma (Huppert) e Mina (Herzi) são duas mulheres que tudo separa. Tudo, menos o facto dos seus maridos estarem ambos na mesma prisão. Alma está sozinha na sua grande casa e Mina mora num bairro social. Elas organizaram as vidas em torno das visitas que fazem aos companheiros. Quando se encontram na sala fora da área de visitas, começa uma amizade improvável entre as duas.

Marés Vivas

Jia Zhangke, realizador de títulos tão importantes do cinema chinês contemporâneo como Plataforma, O Mundo, Se as Montanhas se Afastam ou China – Um Toque de Pecado, centra este novo filme numa rapariga que parte numa viagem para se juntar ao namorado, anos depois de este a ter deixado numa grande cidade e haver prometido vir buscá-la, quando tivesse ganho dinheiro suficiente para poderem encetar uma vida em comum. 

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Karate Kid: Os Campeões

Novo filme da saga Karate Kid, em que Jackie Chan, no papel do Sr. Han, professor de karate, e Ralph Macchio como Daniel LaRusso, o Karate Kid original, começam a treinar um jovem, Li Fong (Ben Wang), que luta kung fu e que após uma tragédia familiar, se mudou com a mãe de Pequim para os EUA.

  • Filmes
  • Acção e aventura
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Chega finalmente aos ecrãs a segunda parte, e oitavo título, daquele que será o derradeiro filme desta série de espionagem e acção protagonizada por Tom Cruise desde o primeiro, estreado em 1996, há quase 30 anos. Ethan Hunt e a sua equipa, mais alguns aliados que apanham pelo caminho, continuam a tentar anular a Entidade incorpórea (o vilão digital da fita) que se quer apoderar de todos os arsenais nucleares mundiais e desencadear um holocausto atómico no planeta, bem como Gabriel (o segundo vilão, este humano), que pretende, pelo seu lado, controlar a Entidade e ser ele a mandar no planeta.

Embora com menos e menos variadas sequências de acção do que o anterior, Missão: Impossível – Ajuste de Contas – Parte Um (2023), e um pouco mais de palha de explicações e de exposição, sobretudo na primeira meia hora, Missão: Impossível – O Ajuste de Contas Final, realizado com mão firme e visão panorâmica por Christopher McQuarrie (no seu quarto filme da série), continua à altura dos pergaminhos desta saga que passou a ocupar o lugar central no cinema do género (sobretudo depois que James Bond deixou de se manifestar), e Tom Cruise, à beira de fazer 63 anos, afirma-se mais uma vez, e em simultâneo, como superprodutor, “estrela” de primeira grandeza e como o actor mais trabalhador, entusiasmado, profissional e que mais arrisca – a própria vida, mesmo, já que dispensa os “duplos” – para dar o maior, melhor, mais arrebatador e inédito espectáculo do mundo aos espectadores. A longa sequência final do duelo entre os biplanos dos anos 30, pilotados por Hunt e por Gabriel (Esai Morales) fica desde já para a história do cinema de acção, juntando-se à do comboio na Parte Um.

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  • Filmes
  • Documentários
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Colossal documentário em três partes, totalizando cerca de 10 horas de duração, assinado pelo realizador chinês Wang Bing. Co-produzido com três países europeus, Juventude foi rodado entre 2014 e 2019 na cidade de Zhili onde se concentram muitos milhares de pequenas fábricas de vestuário, sobretudo infantil, e trabalham e vivem, em condições precárias, cerca de 300 mil pessoas, quase todas jovens e vindas do campo. Bing dá-nos um amplo e detalhado panorama do repetitivo dia-a-dia destes trabalhadores sazonais, adolescentes ou na casa dos 20 anos, do seu convívio, entre brincadeiras e namoros, dos choques com os empresários que os contrataram (sobretudo na segunda parte, Tempos Difíceis), e das suas aspirações e frustrações, filmando-os ainda em viagem e junto das suas famílias.

Retrato de uma nova geração de chineses ao trabalho nas suas máquinas de costura e em movimento entre o campo e a urbe, Juventude mostra também as realidades e o funcionamento do modelo económico-industrial que permite à China inundar o mundo com os seus produtos baratos e em que a quantidade prima sobre a qualidade, e o grande fosso que existe ainda entre o país urbano que o Estado chinês exibe como vitrina do progresso e da superioridade tecnológica, económica e industrial chinesa, e o país rural, onde muitas coisas continuam como a ser como eram há muito tempo, e que é visto na terceira parte, Regresso a Casa.

Através dos seus longos documentários (este Juventude não escapa a alguma repetição e poderia ter sido um pouco “aparado” aqui e ali), Wang Bing é o principal, mais atento, mais pormenorizado e mais paciente cronista das enormes alterações socio-económicas sucedidas na China nos últimos 25 anos, dos seus efeitos sobre as vidas dos cidadãos comuns, e mesmo de toda uma nova geração, como fica registado em Juventude.

Diva Futura

Após ter fundado com um amigo, Riccardo Schicchi, a agência Diva Futura, a actriz porno húngaro-italiana Cicciolina, aliás Ilona Staller, enveredou, na década de 80, por uma carreira política, concorrendo ao parlamento de Itália e apoiando a candidatura de uma amiga e também conhecida actriz de filmes hardcore, Moana Pozzi, à Câmara de Roma. Cicciolina seria eleita, como é recriado nesta fita de Giulia Louise Steigerwalt. A fita recorda também, e em pormenor, os dias de glória e a decadência da agência Diva Futura, e a personalidade de Schicchi, que queria ser mais do que apenas um produtor de pornografia e empresário ligado à massificação do negócio do erotismo, e tentou levar o espírito do “amor livre” e dos costumes permissivos da década de 70 para o território do cinema hardcore e do espectáculos e produtos eróticos. 

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  • Filmes
  • Comédia
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Vencedor dos Césares de Melhor Primeiro Filme e Revelação Feminina, Amor e Queijo, de Louise Courvoisier, centra-se Totone, de 18 anos, que após a morte do pai, um queijeiro e fazendeiro, tem de abdicar da sua vida despreocupada de adolescente e cuidar da irmã mais nova e da quinta da família, em difícil situação financeira. Para conseguir ganhar dinheiro, o rapaz decide entrar num concurso para eleger o melhor queijo Comté, produzido artesanalmente naquela região do Jura. Feito com a ajuda da família e actores não profissionais, este modesto mas sincero e afectuoso filme de estreia de Louise Courvoisier está enraizado na identidade, na paisagem e nas realidades da região em que a realizadora nasceu, sem precisar de ademanes “pitorescos” nem de sublinhar a autenticidade, e a sua história valoriza a família, a amizade e o esforço, mesmo que as coisas não corram bem logo à primeira.

Lilo e Stitch

Versão em imagem real e com efeitos digitais da animação de 2002 da Walt Disney, em que uma solitária menina havaiana trava amizade com um extraterrestre fugitivo e muito irrequieto, que a vai ajudar a reunificar a sua família.

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  • Filmes
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

Ainda não há pouco tempo, o cinema americano era prolífero na produção de filmes infanto-juvenis, que os pais também podiam ver na companhia dos filhos pequenos. A Walt Disney era, naturalmente, o estúdio que dominava esta modalidade de filmes, através de toda uma sorte de títulos que iam de adaptações de clássicos da literatura do género às aventuras de personagens míticas da história dos EUA, como Davy Crockett ou Daniel Boone, e de vedetas de quatro patas como a inesquecível Lassie, passando por comédias familiares que as mais das vezes tinham como heróis crianças ou grupos de crianças amigas, irrequietas e travessas, mas também de bom coração.

Esses tempos desapareceram quase por completo, mas de quando em quando aparece nos cinemas um filme que, pelo espírito que o anima, pela história, pelos protagonistas e pelas suas características gerais, remete para a “era de ouro” do cinema infanto-juvenil. Estas produções já não têm a chancela da Disney, sendo antes independentes com orçamentos modestos e recursos técnicos limitados, mas que compensam estas falhas com entusiasmo, imaginação, sinceridade e um conhecimento profundo da tradição de fitas que representam e a que dão continuidade. Riddle of Fire, a primeira longa-metragem de Weston Razooli, que passou na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes de 2023, é um desses filmes.  

Passado numa pequena vila do Wyoming, Riddle of Fire tem como heróis dois irmãos, Jodie e Hazel, que com a sua vizinha e grande amiga Alice formam os Três Répteis Imortais, um trio de diabretes como poucos. Têm todos pequenas motos de cross e pistolas de paintball improvisadas, e passam o dia ou a fazer disparates na rua e pelos bosques, ou a jogar jogos de vídeo. Um dia, surripiam de um armazém uma nova consola de vídeo e instalam-se em casa de Jodie e Hazel para jogarem. Só que a mãe dos dois rapazes, que está de cama com gripe, mudou a password da televisão para os impedir de estarem horas a fio metidos em casa a jogar. E diz-lhe que só a revelará – e para jogarem apenas duas horas – se lhe forem comprar uma tarte de mirtilo das que ela gosta à pastelaria da vila.  

Mal sabe ela, e nem imaginam os três diabinhos, que uma banal password e uma vulgar tarte de mirtilo – a que se irá juntar mais tarde um ovo de galinha sarapintado – vão lançar Jodie, Hazel e Alice numa aventura de contornos mágicos pelos bosques, indo-os confrontar com um grupo de caçadores furtivos que empalham as presas para vender e com a jovem feiticeira (ou algo parecido com isso) que os lidera, fazer amizade com a filha desta, uma menina chamada Petal com ares de pequena fada, guiar um carro roubado e ter de cantar e dançar num bar de beira de estrada para poderem conseguir o ovo sarapintado atrás citado.  

O realizador e argumentista – e também intérprete de uma das personagens secundárias – Weston Razooli pertence a uma geração que cresceu ainda a ver os filmes para crianças e jovens que a Disney fazia e leu os contos de fadas dos Irmãos Grimm e as grandes obras da literatura de aventuras juvenil, mas que já conheceu os jogos de tabuleiro de fantasy clássicos e os videogames. E é também um cinéfilo omnívoro, com gostos que vão da Nova Vaga francesa à anime e aos filmes de Hayao Miyazaki, bem como as fitas da série Os Pequenos Marotos, Os Goonies, Sozinho em Casa ou Dennis, o Pimentinha.

Rodado em 16mm (“para dar um toque vintage”, como explicou Razooli), Riddle of Fire é um conto de fadas contemporâneo que comunga, alegre, gostosa – e por vezes também anarquicamente –, de toda esta miríade de referências, ao mesmo tempo que compartilha da visão infantil dos seus pequenos heróis, e a transmite em todas as peripécias da atarefadíssima intriga. E o realizador tem a plena colaboração dos quatro miúdos que interpretam Hazel (cujas falas têm legendas, por ser um bocado língua de trapos…), Jodie, Alice e Petal com espontaneidade, alegria e um entusiasmo incansável. Alguma (compreensível) falta de polimento narrativo e cinematográfico, e certas (e pontuais) incoerências de enredo, só acrescentam ao charme de Riddle of Fire. Um título que fica por explicar, mas para o caso tanto faz.

Os Fantasmas

Na primeira longa-metragem de ficção do francês Jonathan Millet, um sírio refugiado em França e que faz parte de uma rede europeia de compatriotas que tentam localizar antigos membros do regime do seu país, para os executar ou denunciar, pensa ter encontrado, em Estrasburgo, o homem que o torturou quando estava preso. Mas tem que ter a certeza que é ele, antes que o seu destino seja decidido por todos os membros do grupo.

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  • Filmes
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Realizado em estreia nas longas-metragens por Bogdan Muresanu, este filme faz-nos recuar à Roménia de perto do Natal de 1989, quando o regime totalitário de Nicolae Ceausescu foi derrubado pela fúria popular em Bucareste. O realizador adopta o ponto de vista de uma série de personagens anónimas cujas vidas se cruzam e assistem, ou participam decisivamente, no caso de uma delas, na queda do “Conducator”.

Prémio de Melhor Filme na secção paralela Orizzonti do Festival de Veneza de 2024, e extensão de uma curta realizada por Muresanu em 2018, The Christmas Gift, O Ano Novo que Não Aconteceu está na linha de fitas anteriores sobre o mesmo tema de outros realizadores romenos, como 12:08 a Este de Bucareste, de Corneliu Porumboiu (2006), The Paper Will be Blue, de Radu Muntean (2006), ou o mais recente Libertate, de Tudor Giurgiu (2023).

Com a particularidade de ter uma forma “coral”, de cruzar várias personagens na mesma narrativa, que se conhecem com maior ou menor intimidade, são apenas vizinhos ou nunca se viram, de contemplar um registo finamente controlado na harmonização de drama e comédia, e de acabar precisamente quando a revolta popular se inicia, concluindo com imagens de arquivo da queda do comunismo romeno nas ruas, e a libertação dos principais protagonistas das várias situações difíceis em que se encontravam. O Ano Novo que Não Aconteceu é um dos melhores filmes sobre este momento inesquecível da história contemporânea da Roménia.

Bird

O novo filme da inglesa Andrea Arnold passa-se mais uma vez na sua região natal do norte do Kent. Bailey tem 12 anos e vive com o pai, Bug, e o irmão adolescente, Hunter, numa comunidade de “okupas” num bairro pobre de uma cidade local. Bug é carinhoso mas irresponsável e não tem tempo para os filhos, e Bailey, que se aproxima da puberdade, procura atenção e aventura noutros lugares. Até que conhece o excêntrico e misterioso Bird, que voltou à sua cidade em que nasceu em busca da família.

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  • Filmes
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Vencedor do Grande Prémio do Júri no Festival de Veneza, e candidato pela Itália à nomeação ao Óscar de Melhor Filme Internacional, Vermiglio, escrito e realizado por Maura Delpero, passa-se entre 1944 e 1945, na remota vila montanhosa do título, à qual chegam certo dia dois desertores do exército transalpino, que ali se refugiam, dividindo as opiniões dos locais: alguns, apoiam o que eles fizeram, outros, reprovam a sua fuga ao dever. Um dos soldados, siciliano, envolve-se amorosamente com a filha mais velha do respeitado professor local, Cesare, que tem uma família numerosa. Engravida-a e casam-se, mas a guerra acaba entretanto e o rapaz tem que regressar à sua Sicília natal para regularizar a sua situação militar. Maura Delpero remete para o cinema dos irmãos Taviani, e muito especialmente de Ermanno Olmi, com este filme em que recria meticulosa e placidamente, sem pressupostos político-“sociológicos”, e com uma reserva emocional que não impede a empatia com as personagens, o quotidiano de uma distante comunidade rural italiana nos meados da década de 40 e finais da II Guerra Mundial, e a vida dos membros de uma família que faz parte daquela, os Graziadei, cada qual uma pequena história em si.

As Mortalhas

No novo filme de David Cronenberg, Vincent Cassel interpreta Karsh, um inovador empresário de tecnologia de ponta, que inventou um aparelho que permite às pessoas verem os restos mortais dos entes queridos nas suas sepulturas. Karsh é o proprietário de um cemitério onde esta tecnologia é aplicada, nomeadamente à tumba da sua mulher, que amava loucamente e morreu de cancro. Um dia, o cemitério aparece vandalizado e Karsh vai ter que descobrir por quem, e por quê. Também com Diane Kruger e Guy Pearce.

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Thunderbolts*

Mais um filme do Universo Cinematográfico Marvel, Thunderbolts* conta no seu elenco como nomes como Florence Pugh, Sebastian Stan, Olga Kurylenko, Lewis Pullman e Julia Louis-Dreyfus. Depois de se terem encontrado presos numa armadilha mortal, um grupo de anti-heróis e de vilões reformados com agendas próprias, lança-se numa missão muito perigosa por um objectivo desconhecido, que os vai obrigar a confrontarem-se com os aspectos mais negros do seu passado.

  • Filmes
  • Drama
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Depois de dez anos na prisão, Lang (Eddie Peng) regressa à sua remota cidade natal, no noroeste da China, agora muito degradada e que vai ser demolida em grande parte para dar lugar a um complexo de fábricas, no âmbito do esforço de desenvolvimento nacional quando dos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008. Lang apenas arranja emprego a apanhar cães vadios e abandonados, que estão por toda a cidade, e acaba por ficar com um cão preto que o mordeu e pelo qual havia uma grande recompensa, após ter estado isolado com o animal para evitar a eventual propagação do vírus da raiva. E desenvolve-se uma amizade entre eles.

Há toda uma vasta filmografia sobre os laços e o companheirismo entre o homem e o cão, e a lealdade, a fidelidade e mesmo o espírito de sacrifício que decorrem deles, e Cão Preto, de Guan Hu, vai mesmo lá para o topo da lista. Além de contar a lacónica mas tocante história da ligação entre o solitário e individualista Lang, e o animal igual a ele em feitio que adopta, e que é o seu correlativo canino, Hu recria também, na desolada cidade em que se passa o enredo, um momento fulcral da história colectiva recente da China, longe da fachada de optimismo propagandístico e de auto-congratulação estridente do Estado central e do Partido Comunista. E fá-lo harmonizando um realismo áspero e uma fantasia de recorte surreal, com uma câmara de vistas amplas que capta e incorpora na narrativa a vastidão esmagadora das paisagens da região, remetendo quer para os westerns e para os road movies do cinema ocidental, quer para a tradição do filme épico, de aventuras e histórico chinês.

Cão Preto ganhou a secção paralela Un Certain Regard do Festival de Cannes 2024 e, para rematar com final feliz fora da tela, o actor Eddie Peng ficou com o cão após a rodagem. 

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  • Filmes

Catherine Deneuve dá aqui corpo a Bernadette Chirac, a mulher de Jacques Chirac, o falecido Primeiro-Ministro e Presidente da República francês, conhecido pelas suas várias indiscrições conjugais. Quando chega ao Eliseu após o marido ter ganho as eleições presidenciais, Bernadette espera ter a posição que merece, por tudo o que trabalhou na sombra para o pôr no mais alto cargo da nação francesa. Ao ver-se posta de lado, decide então tornar-se numa figura mediática. Michel Vuillermoz interpreta Chirac, Léa Domenach realiza, combinando factos e ficção.

  • Filmes
  • 3/5 estrelas
  • Recomendado

John Lithgow e Geoffrey Rush desempenham os principais papéis de A Regra de Jenny Penn, um filme de terror psicológico do realizador e actor neozelandês James Ashcroft. Um juiz reformado, Stefan Mortensen (Rush), está internado numa casa de repouso isolada após ter sofrido um AVC que o deixou sem mobilidade e dependente de outros. Na mesma instituição, encontra-se também há muito um idoso psicopata, Dave Crealy (Lithgow), que se serve de um fantoche de criança, a quem chama Jenny Pen, para tiranizar e atormentar cruelmente os outros residentes, por vezes com consequências mortais. Os veteranos Lithgow, no sádico e sarcástico Crealy, e Rush, no indignado e desafiador Mortensen, brilham e fazem a festa, deitam os foguetes e recolhem as canas deste tenso e sólido thriller da terceira idade, salpicado de humor negro, que James Ashcroft mantém verosímil e “realista” do princípio ao fim, sem sucumbir à tentação de pôr as duas personagens a fazer coisas que os anos e as maleitas não lhes permitem, ou de enveredar pelo sobrenatural, e onde o horror pode ser também a velhice solitária e desamparada. Uma boa série B do género, como já se fazem poucas, e resolvida como deve ser, em pouco mais de hora e meia.

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  • Filmes
  • Suspense
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Ainda A Presença está nos cinemas portugueses e já há mais um filme de Steven Soderbergh a estrear. Escrito por David Koepp, que também assinou o argumento daquele, Black Bag é um thriller de espiões interpretado por Michael Fassbender, Cate Blanchett, Pierce Brosnan, Tom Burke e Naomie Harris. Kathryn Woodhouse, uma agente secreta inglesa, é suspeita de traição. O seu marido, George, também ele agente, enfrenta o derradeiro teste: ser leal ao casamento ou ao país que jurou servir. Mas será que ela é culpada, ou estarão ambos a ser enganados pelo verdadeiro traidor? É que há mais quatro suspeitos, todos eles colegas de serviço de George e Kathryn, e visitas de casa. Soderbergh pega no formato tradicional do spy movie e em todos os seus componentes e roda uma fita de grande entretenimento, um superior divertissement de espionagem, com 80% de John Le Carré e 20% de James Bond, seguindo à risca o caderno de encargos do género, mas com a indispensável voltinha na ponta no final. Ao mesmo tempo, faz o elogio do casamento perfeito, através do casal protagonista e da sua relação doméstico-profissional. E tudo sem conversa fiada nem tempos mortos, sem palha nem teorias geopolíticas, e em civilizada hora e meia. Fassbender e Blanchett são um regalo a interpretar o casal de espiões que se entendem em tudo, seja em casa, seja no trabalho, e Pierce Brosnan diverte-se a fazer uma personagem nos antípodas de 007. A não perder.

On Falling

Primeira longa-metragem da portuguesa Laura Carreira, On Falling foi rodada na Escócia, onde vive há bastantes anos, e ganhou a Concha de Ouro de Melhor Realização no Festival de San Sebastian e o Prémio de Melhor Primeira Obra no Festival de Londres. Aurora (Joana Santos) é uma jovem portuguesa que trabalha num grande armazém de vendas online na Escócia, e procura resistir à crescente solidão e alienação que sente.

+ ‘On Falling’. A premiada estreia de Laura Carreira chega a Portugal

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Monsieur Aznavour

Filme biográfico sobre Charles Aznavour, que conta a vida e a carreira deste gigante da canção francesa e da música mundial, oriundo de uma família de refugiados arménios, desde a infância pobre em Paris até aos píncaros da fama, e se centra especialmente na sua inabalável vontade de triunfar e na sua enorme capacidade de trabalho e produtividade como compositor. O projecto desta fita teve a bênção do cantor quando ainda estava vivo. Tahar Rahim interpreta Aznavour, a realização é de Mehdi Idir e Grand Corps Malade.

+ ‘Monsieur Aznavour’: a história de um monumento da canção francesa

  • Filmes
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Esta comédia dramática de Emmanuel Courcol foi um dos grandes sucessos populares em França em 2024, tendo também, coisa rara, sido plebiscitada por toda a crítica. É a história de um famoso maestro, Thibaut Desormeaux (Benjamin Lavernhe) que foi diagnosticado com leucemia e descobre que é adoptado e tem um irmão mais velho, Jimmy (Pierre Lotin), na vila mineira do Norte de França onde ambos nasceram. Jimmy trabalha na cantina da escola, tem também o dom da música, toca trombone na banda local e foi adoptado por um casal de lá.

Thibaut precisa de um transplante de medula e Jimmy é compatível com ele, e a operação faz-se com sucesso. Agradecido, e sentindo um complexo de culpa pelo facto de os seus pais adoptivos não terem levado também Jimmy para Paris, privando-o assim de uma carreira musical tão brilhante como a dele, Thibaut propõe-se ajudá-lo, e à banda da terra, a ganhar o concurso de bandas da região.

História de um encontro de irmãos que desconheciam a existência um do outro, e de um reconhecimento familiar tardio, ao som de música, Siga a Banda! é também a história do encontro entre dois mundos musicais muito diferentes, mas que têm afinidades naturais, a exemplo de Thibaut e Jimmy, daí que ouçamos Mozart, Verdi, Beethoven ou Ravel, mas também Benny Golson, Lee Morgan, Charles Aznavour e Dalida. E é igualmente a prova de que o cinema francês ainda consegue fazer filmes populares de qualidade, bem acolhidos por público e crítica.

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Parthenope

Nascida em Nápoles nos anos 50, Parthenope é uma mulher que tem o nome clássico da sua cidade, e da sereia da mitologia que o inspirou. O também napolitano Paolo Sorrentino, autor de A Grande Beleza e A Mão de Deus, dá-lhe aqui os traços de Celeste Dalla Porta na juventude, e de Stefania Sandrelli na idade adulta, acompanhando a sua busca pelo amor e pela felicidade nos longos verões de Nápoles, a cidade ancestral e inefável que enfeitiça, alegra e magoa. Também com Gary Oldman e Silvio Orlando.

Filmes em estreia no streaming

Os Nossos Tempos

Comédia romântica e de ficção científica mexicana, sobre um casal de físicos que viaja no tempo, de 1966 até 2025, e tem que se adaptar a um mundo totalmente novo – bem como a uma nova dinâmica na sua relação amorosa –, até conseguir regressar aos anos 60 do século XX. Só que ela se dá melhor do que ele no futuro…

Netflix. Estreia a 11 de Junho

Deep Cover

Comédia policial sobre uma professora de improvisação teatral que aceita infiltrar-se no submundo do crime com dois alunos, após receber uma proposta de um agente da polícia. Interpretações de Bryce Dallas Howard, Orlando Bloom, Nick Mohammed, Ian McShane, Sean Bean e Paddy Considine.

Amazon Prime Video. Estreia a 12 de Junho

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Echo Valley

Kate (Julianne Moore) leva uma vida calma a treinar cavalos na sua quinta em Echo Valley, até ao dia em que Claire (Sydney Sweeney), a sua problemática filha, lhe aparece à porta, aterrorizada e coberta com o sangue de outra pessoa. Este policial conta ainda com Kyle MacLachlan, Fiona Shaw e Domhnall Gleeson no elenco.

Apple TV+. Estreia a 13 de Junho

Tempo de Guerra

Alex Garland e Ray Mendoza assinam este filme de guerra passado no Iraque, em 2006, e que recria factos reais. Após a Batalha de Ramadi, um pelotão de SEALs da Marinha americana parte para uma missão de observação em território insurgente, mas as coisas começam a correr muito mal.

Amazon Prime Video. Estreia a 15 de Junho

Mais cinema

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